Por Dra. Luciana Peixoto Finamor
A umidade relativa do ar (URA) pode ter efeitos diretos e indiretos na saúde e no conforto físico e ocular. Tanto umidades muito altas quanto muito baixas podem afetar a saúde e o bem estar das pessoas. Estes efeitos são minimizados com níveis de umidade entre 40 e 60%, níveis estes considerados adequados para a preservação da saúde.
Durante os meses de inverno, as baixas temperaturas, com resfriamento do ar e a baixa umidade, criam condições para o surgimento ou agravamento de algumas doenças, particularmente aquelas relacionadas aos aparelhos respiratório e ocular. Também no período de inverno, as piores condições meteorológicas, levam ao aumento dos níveis de poluentes. A atmosfera “estável” e sem chuvas, típica dessa época, dificulta o movimento de massas de ar, limitando a dispersão de poluentes (Dióxido de Enxofre, Partículas Inaláveis, Partículas Inaláveis Finas, Dióxido de Nitrogênio e Monóxido de Carbono). Há evidências de que os efeitos causados pelos poluentes atmosféricos se intensifiquem com URA abaixo de 25 %.
Estes poluentes aumentam a ocorrência de doenças respiratórias, cardiovasculares e oculares, entre outros efeitos, podendo ter ação sinérgica com a baixa umidade do ar.
Assim, teremos nos próximos meses, especialmente para as pessoas que vivem em cidades grandes, a clássica combinação: Baixa umidade relativa do ar associada ao aumento dos poluentes! Um “combo” que vai gerar alto índice de doenças respiratórias, alérgicas e oculares. Fora isso, a baixa URA também aumenta a sobrevida de muitos agentes virais e bacterianos. Por isso, também ficaremos mais vulneráveis às doenças de natureza infecciosa.
Vários estudos evidenciam que dor, desconforto e irritação oculares são mais freqüentes com URA abaixo de 20-30% e que pequenos aumentos da mesma podem aliviar os sintomas. Aparentemente um período de 4 horas de exposição à baixa URA é suficiente para agravar os sintomas. Uso de lentes de contato ou doenças oculares pré-existentes também.
Em relação ao olho os principais sintomas ligados ao ressecamento são:
- Ardência
- Olho Vermelho
- Sensação de Areia
- Sensibilidade à luz (fotofobia)
- Fadiga ocular
Os sintomas de olho seco podem ser agravados por outras condições como:
- Tarefas que diminuem o ato de piscar como leitura, exposição contínua ao computador, dirigir longas distâncias, assistir TV.
- Exposição ao ar condicionado.
- Uso de lentes de contato.
- Doenças autoimunes como a Artrite Reumatóide.
- Baixa hormonal, especialmente nas mulheres na pós menopausa ou menopausa.
Como Aliviar os sintomas Oculares?
Algumas medidas podem aliviar os sintomas relacionados ao olho seco. Veja abaixo algumas dicas
- Aumente a ingestão de líquido e mantenha um copo de água sempre ao seu alcance.
- Uso de umidificadores de ar podem ser úteis, mas CUIDADO! a umidificação excessiva do ambiente pode também aumentar a proliferação de fungos e piorar o quadro alérgico. A toalha úmida ao pé da cama é sempre uma boa alternativa.
- PISQUE!!! Lembre-se de piscar mais vezes enquanto estiver lendo, dirigindo ou no computador! Coloque um lembrete no seu monitor! Vai ajudar muito!
- Converse com o seu oftalmologista em relação à prescrição de lágrimas artificiais. Dê preferência para o uso de lubrificantes sem conservantes.
- Introduzir na alimentação alimentos ricos em ômega 3.
- À cada 2 horas de uso de computador contínuo, descansar alguns minutos, olhando para o horizonte ou fechando os olhos com o apoio das mãos. O contato das mãos com os olhos tem efeito relaxante e simula o “olhar para o horizonte”.
No caso das alergias oculares, o que notamos é uma piora ou agravamento das conjuntivites alérgicas, bem como piora das alergias respiratórias como a Rinite e Asma. Em geral, essas doenças têm manifestação simultânea. No olho, os principais sintomas da alergia são:
- Coceira Ocular
- Lacrimejamento
- Hiperemia
- Edema de pálpebras
- Quemose (acúmulo de líquido subconjuntival, com aspecto de “bolha”).
E como podemos atuar para reduzir um pouco as crises de alergia ocular no inverno?
- Evitar o uso de casacos guardados por muito tempo nos armários. Lavar ou expor ao Sol antes de usá-los. Faça o mesmo com as mantas e cobertores.
- A luz solar mata germes. Por isso é importante expor lençóis, travesseiros e outros itens que não são lavados tão frequentemente à luz solar e ao ar fresco. Abra as janelas de sua casa tanto quanto possível. Isto permitirá a luz do sol matar bactérias tão bem quanto ajudará a prevenir o mofo.
- Em dias onde a qualidade do ar estiver muito baixa, evite deixar as janelas de casa abertas, especialmente se você reside à menos de 3 quarteirões de vias de grande circulação de veículos. (Se você é de SP pode encontrar essa informação no link abaixo, site da CETESB: http://sistemasinter.cetesb.sp.gov.br/Ar/php/mapa_qualidade_rmsp.php). Hoje, por exemplo, 24 de junho, estamos com um dia chuvoso em São Paulo, o que aumentou a URA e deixou os índices de qualidade do ar bons em toda a região metropolitana de SP.
- Atenção para os travesseiros e colchões muito velhos. Podem ser grande fonte de ácaros e outros microorganismos. Devem ser periodicamente trocados.
- Eliminar tapetes, cortinas e evitar brincadeiras com bichinhos de pelúcia. SIM!!! É muito difícil fazer isso com os pequenos! Se for um bichinho que eles gostem muito, deixe-o sempre bem limpo e exposto ao sol regularmente. Um sinal para saber se a criança está tendo problemas quando exposta à esses brinquedos é observar se ela coça os olhos quando está com os mesmos!
- Evitar o uso de cosméticos, especialmente os muito pigmentados e a ingestão de alimentos com muitos corantes.
- Lembrar que os esmaltes induzem muita alergia ocular e dermatite atópica. Tentar usar os esmaltes hipoalergênicos.
Sim, vocês já fizeram de tudo e nada melhorou? Caso perceba que o seu filho coça muito os olhos ou os olhos ficam sempre vermelhos, isso é um sinal de alerta e ele precisa ser examinado por um especialista. O hábito de coçar muito os olhos pode favorecer o aparecimento de irregulares na córnea e até ser o gatilho para algumas doenças oculares que vão comprometer a visão, como o ceratocone.
Nesse caso, é preciso mesmo a prescrição de medicamentos antialérgicos específicos, na forma de colírios e em alguns casos até mesmo via oral. Lembre- se que qualquer tratamento deve ser feito com uma equipe multidisciplinar, envolvendo o pediatra, alergista e oftalmologista. Em se tratando de alergia, nenhum tratamento é milagroso ou proporciona cura. O importante é deixar o paciente confortável em relação aos sintomas apresentados e também evitar o aparecimento de cicatrizes na superfície ocular que podem até causar danos de visão irreversíveis. Fique atenta, confie no seu médico e tire com ele todas as dúvidas!